terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Indonésia, o começo do fim!

Paraíso dos surfistas


Padang Padang Beach



Final de tarde único






Celebrações em família



É foto, não é pintura!




Uluwatu Beach





Wayan, Made, Nyoman, Ketut, Wayan II




Templo de Uluwatu



As plantações de arroz no interior da ilha




Guer Guer Beach



Todo mundo contemplando o final de tarde



O conforto...



O céu é sempre encantado aqui




E de repente, chegou a hora de viver uns dias na Indonésia.

Meu vôo saiu de Bangkok e chegou na capital da Indonésia, Jakarta, já era quase noite e o calor ainda era muito intenso. Do aeroporto fui direto para um hotel próximo para descansar. Infelizmente acabei não conhecendo Jakarta porque no dia seguinte cedo já tinha um vôo marcado para a ilha de Bali, o paraíso dos surfistas.

Na verdade, minha experiência na Indonésia se resumiu a Bali, a ilha mais famosa do país. Bali acabou sendo um destino com mudanças radicais no andamento da viagem, senti que aqui começou a reta final da sonhada volta ao mundo.

Explico:

A primeira grande mudança é que neste país tive a companhia mais do que especial de minha amiga Fer Habinoski. Ela veio do Brasil passar as férias comigo na Indonésia e foi uma delícia ter uma parceira nesses dias. Eu já tinha esquecido como também é gostoso ter companhia de uma grande amiga numa viagem como essa, ter alguém pra conversar no mesmo idioma, na mesma freqüência, ter um pedacinho da vida do Brasil aqui comigo. Que delícia!



A segunda grande mudança foi o conforto! Ahhh o conforto... Aqui eu vivi dias de rainha, com direito a estadia em resort e refeições em restaurantes incríveis. Posso dizer que aqui eu passei realmente bem, como uma bon vivant. A mudança para o luxo foi em função de minha parceira de viagem. Eu conheço bem a minha amiga Fer e colocar ela no estilo de viagens que eu estava fazendo, hospedada em hosteis, com banheiros compartilhados, comendo na rua, não ia ser algo muito agradável para as férias tão merecidas de minha amiga querida.

A terceira e mais radical mudança foi cultural e visual. Na verdade foi um pequeno choque, fui pega de surpresa com a primeira impressão de tudo na Indonésia. Ao chegar em Bali, mais especificamente em Kuta, a praia onde nos hospedamos, fiquei espantada com a quantidade de comércio nas ruas. Não falo do comércio que eu já estava acostumada nos outros países, aquelas vendinhas na calçada de Hanói, as comidas de rua na China, os mercados de artesanato do Laos, mas o comércio ocidental em sua verdadeira essência. Bali é dominada por milhares de lojas Rip Curl, Quicksilver, Oakley, Calvin Klein, Havaianas (sim, havaianas!), shoppings, todos os tipos de fast food, restaurantes requintados e até um mega Carrefour. Bali é 100% terra de turistas, com uma infra-estrutura incrível, aqui todo mundo fala inglês. Digo que essa mudança foi um divisor de águas em minha viagem porque senti que a experiência única e transformadora que vivi nos países asiáticos realmente estava chegando ao fim. Eu sei que Bali ainda faz parte da Ásia, mas tive a impressão de que ela está virando a casaca para o Ocidente.

Bom, deixando clara esta mudança de cenário, posso começar a falar mais sobre a deliciosa experiência em Bali.

O povo foi o grande destaque do país, nunca vi gente tão querida, tão feliz, tão comunicativa. Aonde a gente vai tem gente perguntando como você está, como é o seu nome, da onde você é. Às vezes eles são tão simpáticos que chegam a ser meio intrometidos... “Onde você tá indo?” Eita perguntinha indiscreta que esse povo tem mania indagar.

Outra mudança que não citei anteriormente, mas que foi bem diferente aqui em Bali foi a questão da religião. Nos últimos países que passei, a religião dominante era o budismo, já aqui em Bali quem domina mesmo é a religião hindu, apesar da maioria na Indonésia ser muçulmana. O hinduísmo daqui tem algumas diferenças se comparado ao hinduísmo praticado na Índia, mas eu não me arrisco a pontuá-las, só posso dizer que esta foi mais uma religião que me deixou curiosa e doida pra entender um pouquinho mais.

Bali está dominada pelos templos, praticamente a cada 100m é possível ver um templo hindu. O que mais se destaca, no entanto, é o templo de Uluwatu, também conhecido como templo dos macacos já que os pequenos primatas dominam o território. O templo é lindo, ainda mais quando iluminado pela luz do sol do final de tarde. Os macaquinhos dão um toque todo especial ao lugar, mas intimidam um pouco por formarem um verdadeiro batalhão de macacos, centenas e centenas por todos os lados. Eles estão acostumados com o trânsito de turistas e aprenderam a ser muito oportunistas... roubam comida daqueles que se descuidam, abrem nossas bolsas, sobem em nossas cabeças.




O povo hindu tem uma série de comemorações, praticamente todo mês tem celebração nos templos e nas ruas, o que torna a ilha sempre viva e alegre. Levamos sorte ao visitarmos o templo de Uluwatu porque justamente naquele dia estava havendo uma celebração por lá, cheia de cheiros, cores e sons.

Em função da religião, aqui na ilha ainda vigora aquela questão polêmica das castas, a qual segrega pobres, ricos e sábios. Outra questão super curiosa por aqui são os nomes das pessoas. No primeiro dia, pegamos um taxi até uma das praias e perguntamos o nome do taxista, o qual respondeu que seu nome era Wayan. No mesmo dia, pegamos outro taxi para voltar pro hotel e fizemos a mesma pergunta pro outro taxista. “Como é o seu nome?” “Wayan”. Que coincidência, né? Bom, no dia seguinte, pegamos outro taxi e nossa curiosidade nos obrigou a fazer a mesma pergunta. A resposta mais uma vez foi Wayan. Não é possível! Inconformadas com tanta coincidência, perguntamos por que todo mundo se chamava Wayan nessa ilha. Aí sim entendemos... na casta Sudra, a de menor valor na hierarquia e também a mais dominante entre os locais da ilha, os nomes das pessoas são dados de acordo com a ordem em que elas nascem. O primeiro filho é sempre Wayan, o segundo é Made, o terceiro Nyoman e o quarto é Ketut. Se tiver um quinto ou sexto, a contagem recomeça... Wayan segundo, Made segundo e por aí vai. No caso das mulheres, a única mudança é que tem um “Ni” na frente do nome. Ni Wayan, Ni Made, Ni Nyoman... As pessoas se diferenciam através de seus sobrenomes ou por apelidos. Se eu fosse uma balinesa, seria a senhorita Ni Made Stock! Simpatizei com meu nome balinês!

As praias de Bali fazem jus a sua fama de paraíso, são lindíssimas, dominadas pelos milhares de surfistas que transitam pela ilha. Onde tem mar, tem prancha, tem gente pegando onda. Eu não entendo nada de ondas, mas as daqui são particularmente bonitas, grandes, perfeitinhas como se tivessem sido pintadas num quadro.

Além de belas ondas, Bali também soube mostrar os pores-do-sol mais maravilhosos do mundo. Durante esses últimos meses, percebi que sou uma fã assídua de pôr-do-sol, é algo que realmente me comove, me coloca na posição de espectadora, num estado contemplativo gostoso. Cada vez que tenho a chance de ver um pôr-do-sol me sinto profundamente agradecida e abençoada por presenciar mais uma obra divina. Bali me deixou nesse estado iluminado por diversas vezes, os finais de tarde por lá são verdadeiros presentes preciosos, memórias para toda a vida.

Bom, como já disse, Bali marcou o começo de uma nova fase na viagem, a reta final deste sonho. Tenho vivido tantas coisas intensas que a passagem do tempo se tornou uma experiência contraditória. Ao mesmo tempo em que parece que faz anos que estou vivendo essa experiência, levando em conta a quantidade de coisas que vi, aprendi e cresci, por outro lado parece que foi ontem que essa aventura começou. Tudo passa muito rápido, tudo é muito intenso e transformador.

Isso tudo explica o atraso nos meus posts no blog Mundo Bão. Estou há apenas duas semanas de voltar para o Brasil e ainda estou no post sobre a Indonésia. A questão é que foi justamente em Bali que caiu da ficha de que eu deveria me dedicar ainda mais a aproveitar essa viagem do que investir o tempo em escrever. Eu amo escrever, fotografar e postar, mas eu sei que tenho todo o tempo do mundo para fazer isso, ao passo que aproveitar essa viagem eu só tenho uma chance: agora! Acho que vocês vão me perdoar se eu chegar no Brasil e ainda estiver postando, né? Prometo que contarei tudo, até o fim!

Em breve tem mais sobre Cingapura e Malásia.

(Em breve Mariana Stock chega no Brasil, dia 22 de Dezembro estou aí. Que frioooo na barriga!!!)



quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Laos, uma surpresa deliciosa

Energia boa



Janela iluminada



Mercado Noturno


Templo preferido



Os monges



As criaturas fofas



Pôr do sol em Prabang




O bichão clamando por uma banana



Cachoeira especial



Lava roupa todo dia, nada de agonia


Único


Dia de peixe, ou não.


Gente local


O Laos acabou entrando de última hora no meu roteiro. Eu só tinha 5 dias para ficar no país e chegar até lá me custaria uma boa grana, por isso quase decidi continuar no Vietnã por esses dias. Mas algo lá no fundo me dizia... vai pro Laos! Resultado: sai quase chorando do país 5 dias depois, arrependida de não ter separado um mês inteiro para passar lá. O Laos é único, o Laos é zen, o Laos é demais!

Cheguei no Laos do mesmo jeito que cheguei no Vietnã, sem nenhuma reserva de hotel, sem nem saber direito para onde estava indo. Mas quando eu digo que os anjos me acompanham, eu não me engano. No vôo de Hanói para Luang Prabang conheci o Horst, um italiano simpático que se tornou um grande amigo e parceiro durante minha estadia no país. Como ele já tinha uma indicação de hostel por lá eu só precisei segui-lo.

Bom, quando eu me refiro ao Laos, me refiro mais especificamente a Luang Prabang, a cidade onde fiquei 4 dos 5 dias em que estive no país. Luang Prabang é uma cidadezinha pequena, com muita influência da colonização francesa na arquitetura e no jeito de viver do pessoal. Luang Prabang tem uma energia deliciosa, é o lugar perfeito para relaxar e simplesmente aproveitar aquela vibração pacífica e gostosa que permeia todos os metros cúbicos da cidade. É tudo tão zen que eu relaxei demais e acabei quase não tirando fotos da cidade em si. Me desliguei um pouco dessa vida de mochileira fotógrafa. Mas, se a imaginação puder ajudar, Prabang é cheia de cafeterias, hotéis de charme, restaurantes e acima de tudo, é dona de um mercado noturno que no meu ranking foi considerado o melhor mercado de rua que já estive em minha vida! Todas as noites, na rua principal da cidade, acontece esse mercado que deixa qualquer ser humano encantado. Lá a gente encontra o que há de mais bonito em artesanato local, um atentado ao senso consumista de qualquer mochileiro que não tem espaço na mochila para comprar nada.

Numa ruazinha transversal à principal, bem ao lado do mercado de artesanato, também rola uma feira de comida que é um espetáculo à parte. Comida maravilhosa a apenas 2 ou 3 dólares. Eu cheguei a ficar o dia inteiro sem comer só para ir nessa feira e me acabar com as delicias locais. Churrasco de peixe, saladas frescas com pimenta, rolinho primavera, e pra finalizar com chave de ouro, bolo de coco acompanhado do café original do Laos que é um maná dos Deuses, servido com leite condensado. (Essas experiências gastronômicas na Ásia explicam os kilos extras que habitam meu corpo!)


Feirinha de comida


Luang Prabang também é uma das cidades que proporcionalmente têm mais templos budistas em toda a Ásia. Todos os templos são lindíssimos, coloridos e cheios de vida, com monges andando pra lá e pra cá. Aqui visitei o meu templo preferido, adornado com um desenho de uma árvore enorme, linda, parecida com a minha árvore da vida.

Num dos dias por lá, eu e o Horst resolvemos alugar uma moto e dar um giro pela região. Foi um dia delicioso! Nos perdemos diversas vezes durante o percurso já que a sinalização das ruas é precária. Entre uma perdida e outra, acabamos encontrando num hospital de elefantes incrível! Lá aprendi um pouquinho mais sobre a vida desses bichões encantadores, descobri que eles comem em média 200 kilos de folhas e bananas por dia! É só na Ásia que a gente encontra um recanto de elefantes. Depois de mais uns quilômetros em nossa lambreta, encontramos o que procurávamos: umas cachoeiras famosas por aqui. Só depois que você chega nas cachoeiras é que entende porque elas são especiais. Trata-se de uma formação rochosa bem diferente das cachoeiras comuns, algo parecido com o que vi em Pamukkale na Turquia, mas coberto de água cristalina que juntamente com as rochas calcárias formam várias cachoeiras de cor esmeralda no meio da mata. Extasiante! É tão bonito que parece de mentira. Durante todo o nosso percurso de moto, passamos por comunidades locais, todas elas cheias de crianças felizes e brincalhonas. Uma criaturinha mais linda do que a outra! Parece mesmo que todo mundo por aqui vive numa “nice”.


Eu e o Horst, prontos para motocar


Eu poderia ter ficado facilmente 1 mês em Luang Prabang e não me cansaria. Tem uma série de coisas que queria ter feito por lá mas acabou não dando tempo. Queria ter desbravado mais, voluntariado na comunidade local, feito um curso de culinária, relaxado um pouquinho mais e comprado várias coisas. Ficou tudo na vontade!

Como nem tudo são rosas, no Laos eu fiz a pior viagem de ônibus de todos os tempos. Eu já tinha um vôo marcado de Vientiane, a capital do Laos, para a Tailândia, onde pegaria meu vôo para a Indonésia. Para economizar um pouco, resolvi fazer o trecho Luang Prabang a Vientiane de ônibus. Peguei um VIP Bus achando que estaria razoavelmente confortável. Doce ilusão. Quando entrei no ônibus, quase desisti de viajar, um odor de peixe inacreditável! E isso foi só o começo. Foram 10 horas de viagem noturna torturante. Não entendi ao certo porque, mas a maioria do tempo o motorista deixou rolando uma música horrível no último volume. Para quem tem o mínimo de claustrofobia, aquilo era um inferno. Um ônibus fedido, com uma música alta ensurdecedora, viajando por 10 horas na estrada mais sinuosa que já passei. Tomei um dramin para ver se dormia mas não adiantou em nada, as condições eram tão precárias que nem o sono veio me acompanhar nessa aventura. Enfim, eu sobrevivi a mais uma!

Chegando em Vientiane tive uma sorte imensa nas poucas horas que fiquei por lá antes do meu vôo para Bangkok. Conheci uma menina querida da África do Sul, a Érica, que manjava bastante da cidade e fez questão de me levar nos principais templos e pontos turísticos da capital. Ainda aprendi com ela alguns fundamentos da religião budista. Descobri que cometi uma gafe horrível quando fui dar tchau para um monge simpático e ofereci a minha mão para me despedir. A Érica me explicou que os monges são proibidos de ter qualquer contato físico com mulheres, só aí é que entendi porque o mongezinho ficou todo sem graça e deu as costas pra mim quando eu estiquei a mão. Bola fora da Dona Mariana.

A Érica foi um anjinho que passou pela minha vida brevemente. Uma pessoa de coração imenso. Ela me despertou ainda mais essa vontade de entender um pouco mais sobre as religiões do mundo, um tema que me desperta atenção desde que me conheço como gente. Fico fascinada cada vez que escuto alguém falando de sua fé, de suas crenças. Chego cada vez mais à conclusão de que as religiões são todas lindas, cheias de pontos de contato entre elas e diferenças coloridas. É uma pena que essas diferenças coloridas muitas vezes são frutos de guerras e desavenças cinzentas.



A Érica em um templo budista


O Laos foi a experiência mais “express” de toda a viagem porém foi tudo muito marcante. Ainda bem que minha intuição não falhou e me levou pra esse país peculiar e tão especial. Quem sabe um dia ainda volto pra lá. Cada vez chego mais a conclusão de que o Mundo é bão, Sebastião!

Próximo destino: INDONÉSIA.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Vietnã - sem lenço e sem documento

Vietnã - sem lenço e sem documento








Hanói - Insana mas hospitaleira




Hanói - O trânsito maluco



Hanói - Descanso na calçada




Hanói - Peixaria na calçada





Hanói - Almoço em família na calçada






Hanói - Açougue na calçada




Hanói - Barbeiro na calçada




Halong Bay e as milhares de ilhas




Halong Bay





Sapa - quanta cor!



Sapa - eu quero essa boneca!




Sapa - que alegria!




Sapa - Campos de arroz





Sapa - Única



Sapa - Na concentração




Sapa - No pensamento






O Vietnã foi uma aventura e tanto.

Durante o período em que estive lá constatei que a gente realmente muda alguns paradigmas ao longo da vida. Antes de começar a volta ao mundo, meu conceito de viagem sempre esteve totalmente atrelado a um planejamento prévio intenso, considerando impreterivelmente todas as reservas de hotéis, passeios, passagens...

Durante minhas caminhadas mundo afora percebi como também é legal relaxar e deixar as coisas acontecerem naturalmente, deixando os ventos e as boas vibrações tomarem conta da sua vida e esquecer um pouco os planejamentos severos e as planilhas de Excel.

Minha chegada ao Vietnã foi uma loucura... cheguei em Hanói, sem lenço e sem documento, a noite, sem lugar pra ficar. Mais uma vez, deixei tudo por conta do destino e de Deus! Sempre que opto por viajar desta forma, incrivelmente tudo acaba dando super certo no final. Não foi diferente desta vez.

Meu vôo de Phnom Penh para Hanói tinha uma escala em Vientiane, capital do Laos. A princípio, essa escala me parecia um pouco inconveniente já que o vôo que era pra durar uma hora passou a durar duas horas e meia. Mas a paradinha acabou sendo conveniente e estratégica, coisas do destino! Explico: na escala em Vientiane, acabei conhecendo o Rodrigo, um brasileiro que está morando no sudeste asiático. Descobri que ele era brasileiro porque ele tava usando uma mochila com uma etiquetinha do Brasil. Bem na cara-de-pau fui lá perguntar se o cara era brasileiro... não é que era mesmo! Conversei um pouquinho com ele e em seguida entramos no avião, acabamos sentando longe um do outro e não nos falamos mais durante o vôo.

No vôo de Vientiane para Hanói, sentei próxima a um casal de americanos “bicho grilo”, o John e a Nataly, que também estava sem paradeiro em Hanói. Como estávamos na mesma situação, combinamos de rachar o taxi do aeroporto até o bairro Old Quarter, região onde os turistas costumam ficar na capital do Vietnã. Chegando em Hanói, já estávamos prestes a pegar o taxi quando o Rodrigo ressurgiu das cinzas. “Você quer uma carona? Meu motorista pode te levar até o seu hotel.” Santo Rodrigo. Ainda perguntei se o casal de americanos poderia aproveitar a carona. Duplamente santo Rodrigo. A viagem do aeroporto até o centro de Hanói durou mais de uma hora, o que significa que uma corrida de taxi sairia uma pequena fortuna. Santo Rodrigo, santa escala, santo destino.

Eu e os americanos nos despedimos do Rodrigo e desembarcamos em pleno Old Quarter às 21h, na insana Hanói. Não sabíamos direito nem por onde começar a procura por um lugar pra ficar naquela noite. Foi aí que o John teve uma brilhante idéia: eu e Nataly ficaríamos num café bebendo algo e ele iria procurar um lugar para nos hospedarmos. Santo John! Tudo o que eu precisava nesse momento era alguém para procurar um lugar para eu dormir. O John acabou achando o lugar perfeito para uma boa noite de sono. Um hotel de charme, com um quarto só pra mim, super confortável, com internet no quarto, ar condicionado, TV internacional, banheira hidromassagem, toalhas cheirosinhas e café da manhã incluso. Um paraíso para uma mochileira. Sem dúvida, este hotel foi o melhor lugar que fiquei desde a viagem pela Europa com os “paitrocinadores”.


Como vocês podem ver, tudo começou muito bem no Vietnã. A boa notícia é que tudo continuou dando certo até o final! Como tinha pouco tempo para desbravar o país, resolvi colocar no meu roteiro apenas Hanói – a capital, Halong Bay – a baía de 3 mil ilhas, e Sapa – a região das plantações de arroz e do artesanato.

A primeira impressão de Hanói foi simplesmente caótica! Quando a gente pensa que já viu o trânsito mais louco do mundo na China ou no Camboja, você chega em Hanói e conclui que nenhuma loucura de tráfego se compara ao Vietnã. Dizem que o único páreo para o trânsito do Vietnã é a Índia, que eu ainda não tive a oportunidade de conhecer. As motos são praticamente um enxame de abelhas enfurecidas que surgem por todos os lados e cantos. As buzinas fazem parte do cenário sonoro durante 100% do tempo, a barulheira é simplesmente constante. No começo aquilo tudo é um desespero, estressante, “enxaquecante”. Depois de um dia ou dois dias assim, neste estado de alerta e desconforto, o corpo relaxa e os olhos começam a enxergar a realidade local por trás deste caos.

Em Hanói tudo acontece nas ruas. As calçadas são dominadas pelas motos estacionadas, por gente, por cadeiras, por mesas, por comércio. Todo mundo se alimenta sentado nas sarjetas das ruas, no meio daquela bagunça organizada. Caminhar pela cidade é uma experiência única, é preciso estar atento a todos os lados para não ser atropelado por uma moto, para não atropelar nenhum local sentado na calçada, para não deixar de apreciar esse jeito extasiante de viver.

O povo vietnamita é extremamente nacionalista e orgulhoso de sua identidade. E não é à toa... eles têm uma história de guerras e vitórias que os caracterizam um povo batalhador e muito unido. Desde as tentativas de dominação francesa a chinesa, e inclusive na guerra contra os Estados Unidos mais recentemente, o Vietnã mostrou sua soberania como nação forte e guerreira.

A questão política no país é algo curioso. O Vietnã vive num estado político de dicotomia. Enquanto o partido comunista ainda tem grande influência no país, inclusive é o partido do atual presidente, o capitalismo já é a ideologia que na prática está em plena atividade. Mc Donalds, KFC, Coca Cola estão por todos os lados.

De Hanói parti para Halong Bay, uma das regiões mais famosas e turísticas do Vietnã em função de sua paisagem peculiar. São mais de 3 mil ilhas e ilhotas ao redor de uma baía enorme, mais um patrimônio da Unesco para a minha listinha. Confesso que fiquei um pouco decepcionada com Halong Bay, a paisagem é realmente linda, mas a quantidade de turistas chega a ser infernal. O mais triste é que Halong Bay me pareceu uma terra de ninguém, sem grandes controles ou cuidados com esta beleza natural. Mas de qualquer forma valeu a pena ter ido até lá, o cenário é bonito e acabei conhecendo um monte de gente legal no barco em que fiz o passeio.

Meu último destino no Vietnã foi Sapa, foi também o meu preferidíssimo, entre os top 10 lugares que visitei durante a viagem toda. Para chegar a Sapa é preciso fazer uma viagem de trem que dura 10 horas. Lá fui eu encarar mais um trem. Para a minha grande felicidade, essa foi a melhor viagem de trem de todos os tempos, consegui dormir na maior parte do tempo. Sapa é uma cidadezinha pacata, que vive em função do turismo, do artesanato e das plantações de arroz. Ali vivem diferentes tribos, que se vestem com muita cor e vida, tornando a cidade linda e cativante. As mulheres das tribos vivem em função da venda de seu artesanato, elas lotam as ruas e praças com panos, bolsas, calças e tudo o que se pode imaginar, tudo feito a mão. Tudo o que elas vendem também é colorido, o cenário local é mágico, um prato cheio para as fotografias. As paisagens dos campos de arroz também são belíssimas, degraus e mais degraus desenhados nas montanhas, cobertos de plantações verdinhas. Algo totalmente surreal para qualquer ocidental que ainda não tinha visto uma plantação de arroz. Pra finalizar, Sapa é bem mais relaxada do que Hanói. As buzinas até existem, mas uma lá e outra acolá. Todas aquelas cores vibrantes misturadas com o visual dos campos de arroz fazem de Sapa uma parada obrigatória para qualquer visitante em Hanói.

Pra finalizar, na volta de Sapa ainda passei um dia em Hanói e aproveitei para fazer um curso de culinária vietnamita. Para a minha sorte, eu era a única aluna naquele dia e acabei tendo uma aula particular, com direito a visita no mercado local e tudo. Aprendi a fazer várias comidinhas gostosas, mas a campeã para mim foi a salada de mamão verde!

Aguardem a nova chef Mariana quando eu chegar ao Brasil, vou apresentar meus novos dotes culinários!