quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Camboja, um país que tenta se reconstruir

Chegando no Camboja, fronteira com Tailândia




Marcas do Khmer Rouge


Desespero



Escola-Prisão-Museu Tuol Sleng




Um matinho por um trocadinho




Gente que sobreviveu




Gente que batalha pra sobreviver





O futuro do país






Anghor Wat




Ta Prohm - Angkor




Ta Prohm - Angkor



O Camboja foi sem dúvida o país que mais me chocou durante os últimos 6 meses de viagem. Acredito que pouca gente saiba, mas o Camboja tem uma história recente tristíssima, marcada por um regime de terror que matou aproximadamente 30% da população, um índice absurdo que está bem acima das matanças cometidas durante o governo nazista de Hitler.

Entre os anos de 1975 a 1979 (há apenas 30 anos!), o partido comunista Khmer Rouge assumiu o poder do Camboja depois de quase 5 anos de guerra civil. O líder deste partido comunista, Pol Pot, queria instaurar uma sociedade 100% agrária e igualitária. Para atingir seu objetivo, instaurou um regime comunista totalitário que dizimou a população intelectual do país. No regime Khmer Rouge, não poderia haver nenhuma diferença de riqueza, nem intelectual, nem cultural, nem religiosa. Estima-se que mais de 20 mil professores tenham sido mortos, 90% dos monges budistas e 20% dos médicos do país. Não existe um número oficial de mortos durante o regime Khmer Rouge, mas a conta de óbitos passa dos 2 milhões, sendo que na época o Camboja tinha apenas 7 milhões de habitantes. O pior de tudo é que o regime foi apoiado e financiado pela China durante 4 anos. O período de terror só acabou em 1979 com a invasão dos vietnamitas no país e intervenção tardia da ONU, que demorou demais para agir.

Para entender um pouquinho da história do país, resolvi ler o bestseller do Camboja chamado “First they killed my father”, escrito por Loung Ung, uma sobrevivente do inferno que aconteceu no país. Comprei este livro de um rapaz sem pernas, entre milhares de pessoas na mesma situação que ficam nas ruas tentando vender livros e postais. Confesso que ao ler o livro e entender um pouco do tamanho da ganância do ser humano e da força do jogo de interesses comerciais, acabei ficando meio triste e desiludida com o futuro da humanidade. Ainda assim, recomendo a leitura.

Em Phnom Penh, capital do Camboja, visitei um dos principais campos de concentração onde milhares de pessoas foram mortas durante o regime. Também fui a uma escola que durante o período Khmer Rouge foi transformada em um a prisão. A prisão virou museu e atualmente exibe uma mostra de fotos de diversas pessoas que foram torturadas e mortas ali. Sem dúvida, um programa bem triste, mas indispensável numa visita ao Camboja. Impossível não querer se interar da história do país estando ali tão próximo disso tudo. Impossível não se emocionar, impossível não se revoltar, impossível não se questionar.

O Camboja ainda vive às margens desta história sangrenta e tenta se reconstruir aos poucos. As feridas ainda estão abertas, a pobreza é dominante e generalizada. Ao sair nas ruas, os turistas são abordados por centenas de adultos, crianças e idosos locais clamando por esmolas. Dói o coração. Todos têm uma história triste para contar sobre o período do Khmer Rouge. As famílias permanecem despedaçadas e o país em construção. Desde 1993, o sistema político do Camboja é uma monarquia constitucional, mas quem reina mesmo é a corrupção.

Ainda assim, o Camboja tem uma parte linda que fiz questão de deixar pra contar por último: as ruínas dos templos de Angkor Wat, a maior construção religiosa do mundo! Entre os séculos 9 e 13, esses templos foram construídos em homenagem aos deuses hindus. Falando assim, a princípio parecem ser templos comuns, mas ao visitar Angkor Wat fica evidente a perfeita combinação de magnitude, criatividade e devoção espiritual do povo cambojano. Angkor é enorme, é incrível, é divino. Angkor é uma das coisas mais lindas que já vi na vida. Para visitar esta cidade de templos é preciso ao menos 3 dias completos, mas o ideal mesmo é fazer o desbravamento em uma semana, com calma e disposição para andar debaixo de muito sol. Pra mim, o ponto alto de Angkor foi Ta Prohm, um templo que está sendo literalmente digerido pela natureza, uma simbiose surreal do humano com o natural... árvores e raízes enormes saem pelas janelas e tetos dos templos. Estupendo!

Angkor é o coração e a alma do Camboja, um orgulho nacional para todos os cambojanos que tentam se inspirar nessa obra magnânima para esquecer os anos de terror e trauma no país.

Sem dúvida, o povo é outro grande destaque do país. Fiquei maravilhada com a capacidade desta gente ser solidária e feliz mesmo com uma história recente de dor e tristeza. As pessoas são queridas, são sinceras, são sensíveis. Se apegam a qualquer um que tenha um pouco de paciência para escutá-los. Adoram uma conversa e são simplesmente fascinados pelo Brasil.

Pheng-Kruy foi meu moto-taxista particular durante alguns dias no Camboja. Conversamos bastante, aprendi muito e demos muitas risadas juntos. Contei sobre a vida no Brasil e nossos costumes. Cada vez que contava algo sobre minha vida, ele ficava vidrado escutando. Pheng-Kruy não cansava de dizer que eu era a “chefa” mais encantadora que ele já tinha conhecido. Gostou tanto de mim que na última corrida para o aeroporto me fez um pedido: que eu não andasse mais de moto durante minhas andanças pelo mundo, que deixasse esse posto somente para ele em minhas lembranças. Quanta graça, quanta sensibilidade deste povo sofrido que ficou guardado em meu coração.

21 comentários:

  1. Loirão!!!

    As fotos são lindas apesar da triste história... Encantador!!!

    Saudadesssssss (muita!!!)

    Beijosss....Preta (Rê Cezar)

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  2. Lindo post! Realmente um país com um povo muito marcado pelo terror. Mas as ruínas de Angkor são uma das coisas mais inríveis que já vi. Uma coisa impressionante mesmo, só estando lá para ver!
    To com saudades mil amiga! Acompanho seu blog sempre, e me dá uma nostalgia, principalmente agora nesse trecho! Bom seria se a gente pudesse fazer um sabático a cada 5 anos!
    Mande notícias pelo FB! Onde vc tá agora? O que está achando da viagem so far?? Quando volta?? beeeeeijo

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  3. Nossa q lindoooo e emocionanteeee seu post! Quase chorei...
    Apesar de nao te conhecer..achei seu blog pela net e estou viciada!!!! Lindas fotos e vc escreve perfeitamente bem!
    O problema e q vc demora para postar..hahaha
    Bjooo e aproveitaaaa!!!
    Keila garcia

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  4. My angel estou com os olhos cheios de lagrimas! Esse sem duvida e' meu post preferido ate agora, acho q um dos mais intensos que vc ja escreveu, e nao e a toa ne?! Estou com vontade de ir pra la so pra conhecer o Pheng-Kruy =) Amei do fundo do meu coracao! Vc e demais! te amo e estou morrendo de saudades! Fica com Deus! beijao camis

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  5. ps: OBRIGADA POR ABRIR ESSE SEU EMOCIONANTE MUNDO PRA GENTE! TE AMO, CAMIS!

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  6. Querida Mariana, Angkor Wat é onde termina o maravilhoso "Amor à Flor da Pele" de Wong Kar-wai, belíssimo tratado sobre o amor. O personagem viaja para lá e, em pleno luto, sussura seu grito em um buraco da parede, palavras que jamais saberemos quais são - esse final foi retomado pela querida Sofia Coppola em "Lost in Translation", com a mesma finalidade. Um abraço, Leonardo Ferrari.

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  7. Nossaaaa...nó na garganta...pela história, pelas fotos, por saber e conhecer tudo isso através de vc...faz toda diferença...
    Amooooo....
    Saudadonas...
    Tia Lucia

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  8. Sem palavras... apenas arrepios e emoção...
    Te amo muito...

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  9. Great pictures, you have a talent! bisou
    Yann

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  10. Nossa prima, esse post foi melancolicamente lindo! Qta tristeza e, talvez por isso mesmo, qta sensibilidade! Se eu fosse vc, abandonaria as 2 rodas nessa viagem. Será uma lembraça de valer a pena!
    Te amo!
    Saudadona
    Bjos

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  11. Nem preciso dizer que não consegui me controlar... emoção pura, saudade imensa...
    Bjosss

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  12. Mari, as vezes é preciso ir tão longe para sentir saudade de algo que sempre esteve tão perto e nunca notamos. Cada dia te admiro mais pela pessoa que você vem se tornando ! Como todos que acompanham a sua aventura, ficamos ansiosos pelo próximos post mas tbm sentimos muita saudade de você - fique com Deus - bjs - Ana Santos

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  13. Mire, deu até um arrepio.
    Que fotos fortes e quanto sentimento.
    Muito bonito e muito triste.

    Mas a humanidade tem futuro sim...tem que ter. Lá esta Anghor Wat mostrando que o tempo e a natureza "digerem" qualquer obra do humano, até mesmo a calamidade. Temos que continuar em frente.

    Amo muito!
    Post muito emocionante!

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  14. Simplesmente fantástico...
    confesso que virei seu fã.. e mta coisa q vc escreveu me ajudará qnd eu estiver por ai daqui 2 meses.

    obrigado Mari

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  15. Que post Vida Amada!
    Posso imaginar como seu coração tão precioso, sensível, bondoso(...) deve ter ficado ao ver tanta tristeza!
    As fotos profi expressam muito bem o qto esse país é carente e rico ao mesmo tempo!!

    continua firme! continua com nosso Deus!!
    neoqeav
    Eu

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  16. mari, é incrivel como voce escreve gata, é perfeito, sabe, fiquei mega emocionada, tinha uns posts acumulados aqui, acabei de ler, realmente miri, eu to morrendo de saudade de ti, aproveita a viagem amor, e continua "contando" um pouqinho das coisas que voce passa por ai, te amo muito prima <3, camila stock

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  17. Amigaa, jamais pensei que Camboja teve toda essa passagem de tortura e poder que tanto nos revolta ao imaginar que aconteceu. Tambem ja visitei um campo de concentracao, éh realmente chocante.
    Na verdade nunca tinha escutado nada sobre Camboja, apenas sabia que existia.. Obrigada pela aula!

    mega saudadeee...eiiiiiiii um mesinho sóó :) vou te apertar muito.
    bjao no coracao
    Nida

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  18. Mari, esse post é pra quem não era fã do blog virar imediatamente! Nó na garganta, lágrimas nos olhos, pensamentos voando pela mente... vc arrasou!
    Beijos!

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  19. Também ficamos com um nó na garganta, um aperto no peito, principalmente pelo pedido do "seu" mototaxista. Que lindo.
    Beijos

    Mauro e Marcia

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  20. Oi.
    Gostei muito do seu blog!!!

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