sábado, 31 de outubro de 2009

Tailândia, same same but different

Templo budista tailandês




Cores coloridas




Mercado flutuante



Ainda na labuta diária...




Terra de Buda



Terra de monges





Chiang Mai




Abre a boca e fecha os olhos...




Gente simpática







Sorriso duvidoso



Igual igual, mas diferente


O paraíso é aqui!



O paraíso é aqui!



Ainda tem dúvida? O paraíso é aqui!


SAME SAME, BUT DIFFERENT!

Essa é a frase que mais se escuta na Tailândia desde o primeiro momento em que se coloca os pés no país. Nos mercados, nos hotéis, nas ruas, em todos os cantos tem alguém soltando o clichê, as vezes sem nem ter um contexto claro. A princípio parece uma frase bem simples – “igual igual, mas diferente” – porém, essa simples frase esconde um profundo significado que resume bem a percepção que tenho tido do mundo.

Nesses meses de caminhada por alguns países, vi muitíssimos contrastes, formas completamente diferentes de viver, culturas, religiões, hábitos que jamais imaginava existir. Apesar de todas essas dissonâncias, em qualquer lugar do mundo o objetivo final da existência humana é sempre o mesmo: viver, aprender, amar, comer, reproduzir... Em todos os lugares que passei, encontrei gente fazendo o possível e impossível para sobreviver, vi crianças brincando nas ruas, vi escolas, vi alimento, vi casais, vi gente triste, vi gente feliz. Tudo igualzinho onde vivo, mas completamente diferente. Same same but different, o ditado tailandês que resume tudo.

Passei 16 dias na Tailândia, cheguei sozinha na caótica Bangkok onde dois dias depois me encontrei com o amado João. Passamos alguns dias na capital Tailandesa hospedados num hotel próximo a rua Khao San Road, o reduto dos mochileiros na terra, certamente o lugar onde mais vi turistas até então. Se na China era difícil encontrar ocidentais, na Tailândia parece que os ocidentais são a maioria. Meus tempos de celebridade chegaram ao fim, na Tailândia eu sou só mais uma polaca entre milhares.


Khao San Road

A fama dos tailandeses é de ser um povo amigável e sorridente, mas infelizmente em Bangkok não foi bem isso que encontramos na nossa chegada. É tanto, mas tanto turista que parece que a população local está meio farta de todo esse movimento, não é raro o turista ser tratado com um certo descaso. Como tudo na vida, Bangkok tem o bônus e o ônus... Por um lado, é a cidade onde é possível encontrar o que você quiser, massagens super relaxantes, os melhores sucos naturais do mundo, panquecas fresquinhas em cada esquina, templos lindos, roupas bacanas, insetos comestíveis que não me arrisquei a comê-los. Por outro, é uma cidade agitada demais, 100% massificada pelo turismo e com altíssimos índices de prostituição, uma realidade bem triste constatada a cada instante.

A Tailândia foi o país mais religioso que passei, a maioria da população é budista e segue diariamente os princípios da religião. Ônibus, taxis e barcos são enfeitados com guirlandas de flores para tranqüilizar os espíritos e garantir uma jornada segura aos passageiros. No lado de fora das casas e estabelecimentos comerciais, sempre há uma casinha de madeira com flores e frutas para os espíritos errantes viverem.

Os monges budistas dão outro toque especial ao país. Estão por todos os lados, sempre andando em grupos com seus trajes alaranjados e sombrinhas em punho para protegê-los do sol escaldante. Praticamente todos os homens tailandeses são ordenados em algum momento de suas vidas a serem monges, é por isso que a população os respeita muito.

Em todos os templos, budas pequenos, budas gigantes, budas de ouro... todos sendo devidamente tratados com muitos incensos, flores e velas. Por fora, os templos tailandeses são cheios de cores e donos de uma arquitetura belíssima!

Cor é a palavra perfeita para descrever a Tailândia. Tudo aqui é colorido e alegre. A religião, os trajes, as ruas, as praias, os mercados. O famoso mercado flutuante tem um colorido especial a parte... passear por entre todos aqueles barquinhos vendendo de tudo um pouco é uma experiência simplesmente colorida e extasiante! Cheiros e sensações nos dominam durante todo o trajeto pitoresco.


Já um pouco cansados do agito de Bangkok, pegamos um trem noturno e fugimos para o norte do país, para uma cidadezinha chamada Chiang Mai, famosa pelos trekkings nas montanhas, esportes aquáticos e passeios de elefantes. O trem foi um capítulo a parte, algo completamente diferente dos trens que já peguei na vida... trata-se de uma cabine desmontável. Quando chegamos ao trem, nossa cabine se resumia a uma mesa com dois bancos. Achamos estranho. Em seguida chegou um cara do serviço de bordo perguntando se a gente queria que arrumasse as camas. Assim, como num passe de mágica, ele desmontou a mesa e transformou-a em duas camas beliche, fantástico!! A cama era super confortável, mas parece que eu realmente tenho problemas para dormir em trens, é um karma! No dia anterior a nossa viagem havia ocorrido alguns deslizamentos de terra em algumas regiões atingindo os trilhos do trem. Resultado: durante toda a viagem o trem freava bruscamente cada vez que se deparava com um deslizamento de terra, tornando impossível dormir com todos os trancos. Pra completar, o trem ainda atrasou 3 horas para chegar ao destino.

A tal da cabine que se transforma

Os perrenguinhos de trem valeram a pena! De cara, Chiang Mai nos conquistou. Aqui encontramos aquele povo amigável que estávamos esperando na Tailândia. A cidade é pequenita, com uma energia gostosa que vem do alto das montanhas. Nada como fazer um trekking em cima de um elefante pela natureza exuberante para recarregar as baterias. Os elefantes da Tailândia são as criaturas mais adoráveis da face da terra, é possível acariciá-los e alimentá-los, talvez porque sejam muito domesticados para atender o turismo local. Ainda em Chiang Mai, visitamos uma comunidade de meninas de pescoço comprido, que usam aqueles anéis desde o início de suas vidas. Na Tailândia elas vivem refugiadas de seu país de origem – Mianmar – e sobrevivem através da venda de artesanato. Elas ficam o dia inteiro sorrindo para as câmeras dos turistas, mas por trás daqueles sorrisos habitam espíritos sofridos, os lânguidos olhares não sabem disfarçar.

De Chiang Mai, pegamos um ônibus de volta para Bangkok, de onde em seguida partimos para o sul do país. Chegou a hora de ir para o paraíso! Phi Phi Island é uma das ilhas mais famosas da Tailândia por ter sido o local onde o filme A Praia foi filmado. Não é a toa que esse foi o local escolhido para a gravação. Trata-se de um cenário impressionantemente bonito, de tirar o fôlego! Águas cristalinas, escarpas rochosas brotando do mar e alcançando o céu, formando corredores de natureza esplendida e exuberante! Um verdadeiro paraíso na terra. Passamos 5 dias hospedados na ilha de Ko Phi Phi e passeando pelas ilhotas ao redor. Difícil eleger qual é a praia mais bonita, todas elas são um “desbunde” de beleza e dignas do meu desejo de ter um bangalô em cada uma delas!

Estando num paraíso de águas límpidas, aproveitei para fazer um mergulho de cilindro. A Tailândia é famosa por ser um dos melhores lugares do mundo para mergulhar. Já tinha feito um mergulho batismo em Noronha há uns anos atrás e lembrava que a experiência havia sido inesquecível. A segunda experiência aqui na Tailândia reforçou a primeira percepção... mergulhar é algo fantástico! Praticamente impossível acreditar que debaixo do mar existe um outro mundo de cores e formas. Peixes coloridos, plantas enormes e corais elegantes balançam no mesmo ritmo seguindo a ordem da correnteza do dia! Que delícia fazer parte desse balanço lindo de viver!

Falar sobre o preço das coisas na Tailândia é algo que não pode faltar num post sobre o país. Tudo aqui é muito muito barato, inclusive no paraíso de Ko Phi Phi! Ficamos em um bangalô super charmoso de frente para o mar, por R$ 70 a diária, mordomia que meu reizinho fez questão de proporcionar. Para aqueles que não precisam de tanto conforto, é fácil encontrar pousadas simples com diárias a partir de R$ 20. A comida é uma pechincha também! O Pad Thai, macarrão com camarão e tempero tailandês, é a comida local mais vendida no país! Eu fiquei fascinada pela iguaria, praticamente só comi isso durante minha estadia aqui. Um prato de Pad Thai em Phi Phi Island sai por R$4, em Bangkok, por R$2! Os preços das roupas também são uma tentação para qualquer lady, as barraquinhas expondo vestidos, saias e cangas estão por todos os lados. A qualidade deixa um pouco a desejar, mas ainda assim a maioria dos modelitos é cool e baratíssima! Eu tive que resistir aos meus instintos femininos já que espaço é algo em extinção em minha mochila.

Pad Thai - huuuuum

O começo da viagem pela Tailândia foi um pouco conturbado, levamos um choque ao nos depararmos com tantos turistas e com uma população sacuda de toda essa movimentação. Mas, para o bem geral da nação, a percepção só melhorou ao longo dos dias. O povo amigável mostrou a cara, as boas vibrações chegaram da montanha, a boa comida fisgou o estômago e o paraíso foi descoberto! A companhia do reizinho Chede também valeu para tornar tudo ainda mais delicioso.

Quem precisa mais do que isso para adorar um país?

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

China, senta que lá vem história... PARTE II

Eu e a China



Eu quero uma casa templo como essa pra mim



Proteção dupla


Cotidiano


Clique roubado


Xangai


Balada em Xangai

Suzhou noturna

Templo do Céu - Pequim




Mais contrastes




Cidade Proibida - Pequim




Nas redondezas do Palácio de Verão - Pequim




Parque Olímpico - Pequim


Maquiando para a Ópera



Grande Muralha



Não é boneca, é gente mesmo!




Guerreiros de Terracota - Xian




Hora de falar de China China mesmo...

Bom, antes de tudo, preciso contar uma história que começou antes da minha viagem de volta ao mundo. Uns meses antes de embarcar entrei para a comunidade Couch Surfing que já comentei aqui quando falei sobre Hong Kong. Trata-se de uma comunidade na internet que reúne pessoas que tem interesse em viajar e ficar na casa de outras pessoas, sem pagar nada por isso. Fazer com que as pessoas se encontrem ao redor do mundo é a principal razão de ser do Couch Surfing. Mas a comunidade é muito melhor do que parece, no CS é possível conhecer pessoas que tem interesse em viajar para os mesmos lugares que você. Por exemplo, assim que entrei para a comunidade, me filiei ao grupo Southeast Asia. Neste grupo, está todo mundo que tem algum tipo de interesse em viajar para o sudeste asiático, então acaba sendo fácil e divertido conhecer gente pela internet que está viajando para os mesmos destinos que você. Eu sou uma Couch Surfer, porém nunca “surfei num couch”, mas já usei muito a comunidade para conhecer as pessoas locais, é muito muito útil para todos que gostam de viajar e conhecer gente. Recomendo a todos. Quem tiver interesse em saber um pouco mais, entra no site: http://www.couchsurfing.com/

Foi justamente pelo Couch Surfing que conheci minha atual grande amiga canadense Jéssica Ashby. Antes de viajar, a gente se encontrou no CS e viu que ambas iríamos para a China no mesmo período, sozinhas. Por que não nos juntarmos nessa empreitada? Bom, mandamos uns 2 ou 3 emails constatando que ambas tinham interesse em viajar juntas para a China e então combinamos que mais perto de Setembro nos falaríamos novamente. Eis que perto de setembro, nos falamos novamente e o combinado ainda estava de pé, nos encontraríamos na China!

Nosso encontro real se deu em Guangzhou, uma cidade ponte entre Hong Kong e Xangai.
A cidade não tem nada demais, mas a química da amizade entre eu e Jessy foi instantânea! Nos abraçamos assim que nos vimos e conversamos por horas a fio como velhas amigas. A Jessy foi minha companheira de viagem por 2 semanas e foi simplesmente incrível conhecer essa pessoa. Graças a Jéssica, eu aprendi um montão de coisas, inclusive a comer nas ruas por apenas alguns centavos de real. Nos divertimos muito juntas, rimos e choramos, fomos a baladas, muitos templos, viagens de trens e muito mais... tudo mais do que inesquecível! De presente, ainda ganhei uma amiga de verdade pro resto da vida!




Bora falar da China...

No dia seguinte que me encontrei com a Jessica em Guangzhou, partimos de trem para Xangai. Foi a minha primeira viagem de trem pela China e foi realmente algo muito marcante. Foram 12 horas de viagem, num treliche sendo que eu e Jéssica estávamos no terceiro andar de nossos treliches, local em que é praticamente impossível erguer a cabeça de tão pequeno que é o espaço. Para chegar no tal do terceiro andar, é preciso fazer uma escalada pelas outras camas. Para tornar a situação um pouco mais complicada, na China é permitido FUMAR DENTRO DO TREM!! E pra piorar ainda mais, o “fumódromo” e o banheiro eram ao lado da nossa cabine. Resultado, fumaça de cigarro nas sardinhas enlatadas e barulho de gente escarrando no banheiro por 12 horas. Mas tudo bem, sobrevivemos e chegamos à incrível Xangai.



Xangai foi sem dúvida a cidade mais tecnológica que conheci até então, ainda mais do que Hong Kong. A Torre Peróla parece coisa da família Jetson, algo totalmente futurístico! Xangai é também um grande centro empresarial e financeiro, a grande maioria dos negócios, multinacionais, expatriados e grandes executivos da China se encontram aqui. Ouvi dizer que ganhar dinheiro em Xangai é tarefa mais fácil (ou menos difícil) do que em qualquer outro lugar do mundo. Será que vale a pena tentar um emprego por aqui?

Em Xangai também passei por uma situação bem diferente: hospedei-me na casa de uma pessoa sem nem conhecê-la, e não foi pelo Couch Surfing. Explico: meu ex-chefe Maykon, um chinezinho porreta, me disse que tinha um amigão vivendo em Xangai, e cometeu a besteira de dizer que eu poderia ficar na casa deste amigo se eu quisesse. Ofereceu, ta oferecido! Ainda mais para uma mochileira que quer economizar sempre que possível, a oferta é irrecusável! Lá fui eu com a Jessica bater na casa do Théo, o tal do amigão do Maykon. Resumindo... passamos 5 noites no delicioso ap do Theo, ele foi um tremendo de um anfitrião, nos levou para baladas fantásticas, restaurantes e nos apresentou para um monte de gente legal. Xangai sem dúvida se tornou muito melhor com a nossa estadia na casa do Théo, que é uma pessoal inrível. Obrigada Maykito e Theo por tudo!!


Pertinho de Xangai, ainda tivemos a oportunidade de conhecer Suzhou, uma cidade conhecida como a Veneza do Oriente. Trata-se de uma cidade permeada de canais, e, além disso, com jardins lindíssimos para serem apreciados. Eu e Jessy ainda fizemos um delicioso passeio pelos canais de Suzhou, com direito a gondoleira chinesa cantante!



Mas o melhor ainda está por vir: Pequim. Essa foi a cidade do encantamento na China. De Xangai, pegamos outro trem noturno para Pequim, dessa vez pagamos um pouco mais pela passagem e ficamos no segundo andar do treliche. Achei que desfrutaria de uma boa noite de sono, que ilusão. Dessa vez não foi o cigarro, foi uma sinfonia de roncos que não me permitiu dormir. Cada cabine tem 2 treliches, ou seja, 6 pessoas por cabine. Dessa vez, era só eu e a Jessy de mulheres estrangeiras na cabine, os outros 4 eram homens chineses. Todos tinham uma habilidade incrível de roncar, mas teve um gordinho que superou qualquer recorde de ronco. O cara conseguia roncar de mil maneiras... assobiando, assoprando, gritando. Minha vontade era de enfiar uma meia na boca do cara! Coloquei meu tampão de ouvido, mas não resolveu em nada, a sinfonia era tão grande que superava qualquer barreira. Mais uma noite em claro num trem chinês para ficar registrada! Valeu a experiência e a história pra contar.

Vamos à parte boa de Pequim... trata-se de uma cidade monstruosamente grande com uma população de mais de 11 milhões de habitantes. Ao mesmo tempo, Pequim consegue ser uma cidade delicada e sensível aos olhos de qualquer mortal. Os templos são sem dúvida os mais lindos da China. Templo do Céu, Palácio de Verão e templo Lamá são imperdíveis, lugares onde a paz reina e é possível sentir as melhores vibrações do universo. Também é nos templos que os chineses costumam praticar o tai chi chuan durante as manhãs, algo tão bonito de ver que acaba sendo terapêutico, eu poderia ficar horas vendo eles se movimentarem daquele jeitinho calmo e compenetrado.

A Cidade Proibida é um dos pontos altos de Pequim. Patrimônio mundial da UNESCO, este palácio imperial tem mais de 9.999 cômodos e foi residência de imperadores por mais de cinco séculos, o acesso era restrito apenas ao imperador e seu pessoal de confiança. Trata-se do maior palácio do mundo, uma verdadeira cidade dentro de Pequim! A gente se sente pequenino dentro da imensidão e imponência da Cidade Proibida.

O parque olímpico onde foram realizadas as Olimpíadas de 2008 é um verdadeiro sonho para qualquer esportista (e também para gente comum como eu que gosta de esportes). Fiquei toda animada ao ver o estádio Ninho de Pássaro e o Cubo de Água de pertinho. Imagino a sensação deliciosa que deve ter sido viver isso no ano passado, em plenas Olimpíadas.

Também em Pequim, fomos a uma tradicional Ópera Chinesa, que nos primeiros 10 minutos pareceu legal, mas depois se tornou um tanto quanto enfadonha. As maquiagens e o figurino do elenco são lindos, mas confesso que a voz deles não é lá muito agradável. A senhorinha que estava do meu lado dormiu quase o tempo todo.

Para compensar a ópera mais ou menos, fomos jantar no Da Dong, considerado o melhor restaurante para comer o famoso Pato de Pequim. Gente, trata-se de uma iguaria indescritivelmente gostosa, entre as melhores comidas que já experimentei na vida. O pato é defumado, com uma carne tenra, macia, saborosa. Até mesmo a pele do pato é uma delícia, crocante e deve ser desfrutada com um pouco de açúcar... huuuuum, só de tentar descrever já fico com água na boca! Sensacional! É um pouco caro, mas sem dúvida vale cada centavo, cada milímetro cúbico da apreciação do pato.


A coisa só melhora para a moral de Pequim... não muito longe dali, fui parar nada menos nada mais no que na GRANDE MURALHA DA CHINA! Este foi mais um super ponto alto da viagem. A Grande Muralha é imponente, deslumbrante e parece ser infinita já que ela ultrapassa o horizonte, indo até onde os olhos não conseguem mais enxergar. Optamos por conhecer a parte da muralha chamada Simatai, um trecho que não é tão turístico e foi pouco restaurado, o que significa que o nosso trekking por lá não foi moleza. Foram simplesmente 10km de caminhada (e escalada) pela muralha, passando por mais de 30 torres, milhares de degraus e vistas incríveis. A sensação de estar neste lugar histórico é demais, me arrepiei o tempo todo. Chegou a ser difícil acreditar que eu realmente estava em cima da grande muralha. Foram mais de 3 horas de trekking que também valeram cada gota de suor e esforço.

Xian foi minha última cidade na China. A cidade é uma graça, rodeada por uma muralha imponente. Fiquei apenas uma noite lá com o intuito de conhecer o famoso museu dos guerreiros de terracota. Essa foi uma parte legal da viagem, mas acabou não ficando na lista dos hot spots da China. Não dá pra diminuir o valor da obra, um exército de mais de 8 mil figuras de soldados e cavalos em tamanho original que foram feitos por mais de 700 mil operários a pedido de um imperador. O tal do imperador acreditava que o batalhão de argila o protegeria para a eternidade após sua morte. A história é boa, mas depois de umas 2 horas vendo os 3 pavilhões de guerreiros acaba ficando meio cansativo.

Bom, até agora eu contei um pouco das experiências que tive em cada uma das cidades que passei na China, mas acho que ainda não consegui exprimir o porquê do meu encantamento com o país, com o povo.

Vou tentar ser breve... Só na China é possível cultivar um sentimento de amor e ódio praticamente o tempo todo, os contrastes são fortíssimos. Ao mesmo tempo em que eu poderia odiar os chineses porque eles tem modos horríveis, catarram por tudo, arrotam, fedem, fazem xixi na ruas, eu tenho a opção de amá-los porque eles conseguem ser as criaturas mais sensíveis do mundo, dançam nos parques, fazem tai chi chuan, ficam extasiados e felicíssimos ao verem uma polaca como eu.

Eu poderia odiá-los porque NINGUÉM fala inglês e também não entendem mímicas básicas, por outro lado, tem muitos que mesmo sem entender nada ficam ali junto com você se esforçando para ajudar de alguma forma, pedindo ajuda pra outro chinês ou falando em chinês com vc. Não dá pra dizer que os chineses não são solícitos.

Eu poderia odiar o caos do trânsito da China que é algo de outro mundo. Eu nunca vi coisa igual, são milhares de motos e carros juntos buzinando ao mesmo tempo, fazendo conversões proibidas. A chance de ser atropelado é grande porque parece que todos os veículos têm passagem livre nas calçadas também. Pedestre é a última prioridade aqui. Ao invés de odiar, a gente sempre tem a opção de se divertir com a situação caótica! Me flagrei diversas vezes rindo sozinha no meio daquela bagunça que chega até a ser divertida.

Eu poderia odiar a China por todas aquelas comidas estranhas e aparentemente indigestas, mas tive a opção de experimentar as esquisitices e descobrir que muitas vezes o que é feio pode ser uma delícia!

Os banheiros chineses, que na regra são sujos e praticamente intransitáveis também são um grande motivo para não gostar do país, mas até isso depois de um tempo é possível pegar a manha. Ter sempre em mãos papel higiênico e um lenço com um pouco de perfume para colocar no rosto ao entrar nos banheiros resolve qualquer problema.

Para AMAR a China, basta estar com o espírito livre para se encantar com todas as maravilhas que o país oferece e livre também para aceitar as diferenças. Foi justamente no contraste do dia-a-dia que tirei as maiores lições, dei as maiores risadas e ganhei muuuitas histórias pra contar pro resto da vida.

Sem dúvida, a China é responsável por uma grande parte da história da volta ao mundo de Mariana Stock!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

China, senta que la vem historia... PARTE I




Chegando na China...

Skyline noturno de Hong Kong



Hong Kong diurna


Hong Kong noturna



Misturas...




Thai o



Thai o

Fé!



Thai O

Big Budda


Oferenda grande...


TOC por limpeza...



Dim Sum


Pessoal Couch Surfing


Power Rangers tem a força!


Senta que lá vem história porque falar de China não é brincadeira! Eu simplesmente estou chocada com o impacto que a China teve sobre mim. No fundo, acho que não criei expectativas quanto à viagem por este país e isso acabou sendo fantástico... A China foi a melhor surpresa até então! Foi tão especial que eu tenho certeza de que aqui é um lugar que eu ainda vou voltar para conhecer a grande parte que não conheci desta vez.

Quando a gente passa pela China, logo percebe que este é um país de extremos, um verdadeiro universo de diferenças. Falar de China é falar de uma das civilizações mais antigas do mundo, é falar da maior população existente na terra, é falar de uma potência tecnológica, uma potência de tradições, uma potência de mão de obra. É gente que não acaba mais!

São aprox. 1,4 bilhões de habitantes, o equivalente a 7 vezes a população do Brasil e 20% da população mundial! A cada ano, mais de 100 milhões de turistas visitam a China. A princípio parece muito, mas no meio destes 1,4 bilhões de chineses, os turistas se tornam ínfimos e praticamente seres extraterrestres dentro deste universo de gente de olhos puxados.

Modéstia a parte, mas me senti uma verdadeira celebridade na China! Só aqui, por onde passei virei assunto, as pessoas paravam o que estavam fazendo para me admirar, para me apontar, parar tirar foto comigo. Teve uma família que gostou tanto de mim que passei mais de 20 minutos tirando fotos com eles. Foi preciso uma dose extra de paciência para as dezenas de clics com toda a árvore genealógica da família. Polacas definitivamente não sofrem de baixa auto-estima na China!

Mesmo viajando pelo país mais populoso do mundo, onde as chances de perigo deveriam ser proporcionalmente maiores do que em outros países, não me senti insegura em praticamente nenhum momento. As leis na China são muito rígidas e a questão da segurança é algo prioritário para o governo. Por onde se transita é preciso passar a bolsa em máquinas de raios-X, há centenas de guardas espalhados pelas ruas. Além das leis rígidas, tem um fato cultural que também influencia muito na questão da segurança: o confucionismo. Este é um sistema filosófico chinês que perdurou por mais de 6 séculos na China e ainda tem grande influência na maneira de viver dos chineses. Não se trata apenas de religião, mas de um sistema que pondera a questão da moral, política, educação e também religião. O valor ao estudo, à disciplina, à ordem e ao trabalho são pilares que o confucionismo introduziu de maneira definitiva na civilização chinesa da antiguidade até os dias atuais. Prefiro evitar entrar em detalhes sobre o confucionismo porque a chance de falar besteira é grande... mas sem dúvida isso influencia muito na forma como os chineses respeitam a todos os tipos de regras definidas.

Bom, vamos ao meu trajeto pela China... fiquei 20 dias no país, cheguei por Hong Kong, depois fui pra Guangzhou, então Shanghai, Suzhou, Beijing, Xian e novamente Hong Kong.

A chegada por Hong Kong foi estratégica, já que Hong Kong é China, mas não é. Explico: Hong Kong desfruta do estatuto de uma região administrativa especial da China, que na prática significa um só país, porém dois sistemas bem diferentes. Hong Kong tem autonomia praticamente total, tem moeda, língua, bandeira, fronteira e leis diferentes da China. Por aproximadamente 150 anos Hong Kong foi colônia britânica e isso deixou marcas definitivas na população cantonesa. Hong Kong só foi transferida novamente para China em 1997, fato muito recente que faz com que a presença da influência inglesa em praticamente tudo ainda seja bem evidente.

Hong Kong foi o meu ponto de chegada na China já que brasileiros não precisam de visto para entrar aqui. A partir de Hong Kong é possível requerer o visto de entrada para China, algo bem mais fácil de fazer por aqui do que do Brasil, em 24h estava com o visto chinês na mão!

Cheguei aqui como vim ao mundo: sozinha. Com minhas duas mochilas, desembarquei naquele aeroporto monstruosamente grande e fui procurar o ponto de ônibus que o pessoal do meu hostel sugeriu, o A33. (Pausa: Não sei se já contei aqui, mas eu tenho um pouco de trauma de taxista, tenho a impressão de que sempre vou ser passada pra trás. Sendo assim, sempre que possível evito os taxis e opto pelos sistemas de transporte locais: ônibus, trem ou metrô. Além de não ser passada pra trás, o meu orçamento agradece a priorização dos meios populares de deslocamento.) Em Hong Kong, os metrôs e ônibus são incríveis... legado da colonização britânica.
Não apenas o transporte, mas quase tudo é incrível e funciona maravilhosamente bem em Hong Kong, fato que só percebi depois que conheci a China "real". O povo é educadíssimo, super hospitaleiro e fala um inglês lindo; a cidade é extremamente limpa, parece que toda a população tem um "TOC" por limpeza; o trânsito é grande, porém organizado; a sinalização nas ruas é perfeita e de interpretação facílima para os turistas. É praticamente impossível se perder em Hong Kong, mesmo em se tratando de "Mariana mais perdida do mundo". Andei sozinha por tudo nas primeiras 48 horas desde minha chegada. Depois disso, conheci um pessoal do Couch Surfing e não me restou mais tempo solitário na China, tive companhia de gente local pelos próximos 2 dias. Com eles tive a oportunidade de conhecer lugares bem originais, como o vilarejo pesqueiro de Thai-o, sem dúvida um dos lugares mais especiais de Hong Kong. Thai o é uma vila pequena e pacata que na verdade é a origem de Hong Kong, antes da chegada dos ingleses, Thai-o era o que existia nessa região. Me parece que a vila mudou muito pouco nos últimos 200 anos, tudo acontece num ritmo lento e pescador de ser. Tá aí outro grande contraste de Hong Kong, uma tradicional vila de pescadores no meio de uma das cidades mais tecnológicas do mundo.
Com os amigos locais, também aprendi a comer dim sum, uma comida bem típica da região de Cantão que é servida em pequenos potinhos de bamboo. A maioria dos dim sums são bolinhos de carne de porco ou galinha enrolados em uma massa branca feita de arroz. Pra simplificar a percepção, algo parecido com um tipo de esfiha branca cozida, falando assim pode parecer um pouco estranho, mas não se enganem, é simplesmente divino!! Ao contrário do que muitos me alertaram sobre a culinária chinesa, esta foi outra questão que me surpreendeu positivamente por aqui.

Hong Kong é também um exagero de luz, símbolos e cores. É a única cidade que conheço que consegue ser mais clara durante a noite do que durante o dia, tamanha a quantidade de luminosos e propagandas por todos os lados. Foi a cidade em que menos vi templos, mas quando vi eles se destacavam diante do contraste que faziam no meio da selva de pedras. Ainda assim, todos os templos que visitei estavam lotados de chineses fervorosos fazendo suas preces.

Amei ter começado minha viagem por Hong Kong, foi sem dúvida um belíssimo de um aperitivo para o prato principal que foi a China. Aqui não vi as paisagens mais lindas do mundo, mas conheci pessoas fantásticas, fato que valeu muitíssimo a pena e constatou mais uma vez que O MUNDO É MUITO BÃO, SEBASTIÃO.

Em breve conto mais sobre as experiências na China "real".
É muita história para um post só.